A importância dos testes genéticos no câncer de mama hereditário

Os cuidados preventivos fundamentais em relação à detecção precoce ou nos estágios iniciais ao câncer de mama são amplamente divulgados entre a população, como por exemplo o autoexame das mamas ou a realização da mamografia a partir dos 50 anos de idade. Porém, para os casos de indivíduos com suspeita de síndromes de câncer de mama hereditário os cuidados precisam iniciar ainda mais cedo.

Assim como em outros tipos de câncer, a mutação genética pode gerar erros casuais no metabolismo celular e assim levar à carcinogênese. Logo, a mutação por fatores hereditários pode ser transmitida de pais para filhos. Neste contexto, desde a gestação esta mutação responsável por aumentar o risco de carcinogênese estará presente em todas as células durante a vida daquela pessoa. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), os casos de câncer causados por fatores hereditários ou predisposições herdadas dos pais representam aproximadamente 10% do total dos cânceres diagnosticados no mundo.

Um dos indícios de que um câncer de mama pode ser de origem hereditária é o surgimento da doença em idade precoce, em média até os 50 anos de idade. Cânceres de mama sem este fator genético herdado surgem em sua maioria tardiamente ou na velhice. Outro indicativo de que se trata de um câncer desencadeado por herdabilidade é a bilateralidade do tumor, ou ainda a manifestação em ambas as mamas. Há também a característica do câncer de mama ser triplo negativo para a expressão de proteínas específicas.

Estas situações são associadas aos casos de câncer de mama em que a hereditariedade tem a maior responsabilidade pela carcinogênese. Também é importante ficar atento quando há mais de um familiar com câncer de mama, ovário, pâncreas ou próstata ou qualquer um destes casos em gerações consecutivas. Para tal situação, é recomendado procurar um serviço de aconselhamento genético em câncer.

A oncogenética nos casos de câncer de mama hereditário

Pessoas que tenham parentes de primeiro grau têm uma probabilidade de 50% de herdar a mutação e assim ter mais chance de desenvolver tumores. Também é importante saber se o familiar que tem o tumor possui alguma mutação genética herdada, pois isto implica também em risco aumentado para câncer entre os familiares.

É nesta parte que entra a oncogenética, que faz este mapeamento familial, beneficiando não somente a pessoa diagnosticada, mas seus familiares, que podem agir pro ativamente verificando se são portadores desta mutação patogênica e, assim, planejar ações para diminuir o seu risco ou a sua transmissibilidade.

A presença de uma mutação genética herdada pode ser descoberta através de testes genéticos. Na prática, é recomendado que as mulheres diagnosticadas com câncer de mama e que apresentem alguma característica que possa estar associada aos casos hereditários da doença – como idade precoce, familiares com a doença ou características específicas do tumor – procurem um geneticista para a realização do mapeamento genético. Isto permitirá a identificação de mutações hereditárias. Atualmente esta é a maneira profilática mais eficiente para a diminuição de risco de carcinogênese, pois uma vez identificada a portabilidade, dependendo do gene afetado, é possível tomar medidas profiláticas como a mastectomia redutora de risco.

Para quem não recebeu o diagnóstico, mas possui casos na família, existem os testes genéticos que, associados às interpretações da equipe de aconselhamento genético, podem identificar indivíduos com predisposição a desenvolver um câncer de mama. Sim, indivíduos! São mais raros, porém, há homens que desenvolvem câncer de mama também. No Brasil, este tipo de análise laboratorial pode ser realizada através de um pedido médico e oferece a oportunidade de a pessoa ficar mais proativa em relação à própria saúde.

É importante destacar que nem todas as pessoas que possuem a mutação necessariamente irão desenvolver a doença, elas apenas possuem um risco maior do que aquelas que não são portadoras da mutação. Saber da presença da mutação permite que a pessoa procure um médico, que irá recomendar uma rotina personalizada de exames e medidas preventivas para diminuição do seu risco.

Genes relacionados ao câncer de mama hereditário: BRCA1 e BRCA2

Os casos de câncer de mama hereditário em mulheres jovens e em homens podem estar relacionados a mutações nos genes BRCA1 e BRCA2, que pertencem à classe dos genes supressores de tumor. Durante o ciclo celular eles atuam corrigindo os erros, ou melhor, as mutações patológicas desencadeadoras de câncer geradas no genoma durante a proliferação celular.

As proteínas de mesmo nome, BRCA1 e BRCA2, estão associadas a mecanismos reparadores de mutações, como o reparo da quebra de dupla fita de DNA e o reparo através de recombinação homóloga. Quando uma mutação inativa um destes genes e, assim, sua atividade reparadora que mantém a estabilidade genômica, temos um risco aumentado ao câncer.

Foram identificadas mais de mil mutações no gene BRCA1 até o momento, a maioria associada ao aumento de risco de câncer, principalmente o de mama, mas também associada a câncer de ovário ou pâncreas, por exemplo. Devido às mutações, na maioria das vezes a proteína codificada tem funcionalidade comprometida ou nem chega a ser sintetizada. Ou seja, é incapaz de fazer suas tarefas. Há outros casos em que pode haver alteração da sequência de aminoácidos na proteína ou deleção de segmentos do gene. Estas maneiras de inativar o gene resultam em células defeituosas que podem crescer e se dividir descontroladamente, dando origem ao tumor.

Já as mutações no gene BRCA2 se caracterizam mais frequentemente pela deleção de nucleotídeos únicos. O resultado geralmente também é a síntese de uma proteína defeituosa incapaz de auxiliar no processo de reparo do DNA. Apesar de menos frequentes do que as mutações no gene BRCA1, estas alterações são mais comuns nos casos de câncer de mama hereditário masculino.

O risco de câncer de mama em mulheres portadoras de mutação no gene BRCA é de aproximadamente 70%. As análises destes genes podem ser solicitadas em conjunto ou separadamente, e os testes podem ser recomendados a indivíduos com diagnóstico de carcinoma mamário bilateral de início precoce e a pessoas com histórico de câncer de mama.

Pode-se incluir no sequenciamento genômico de última geração, que tem ótima especificidade e sensibilidade para análise dos genes BRCA1 e BRCA2, os demais genes que eventualmente podem explicar o desenvolvimento de um câncer de mama, através de um painel com mais genes. Isso aumenta as chances de detecção de outras mutações frequentes.

Outros genes de suscetibilidade ao câncer de mama de alta penetrância são: o gene PTEN, associado à Síndrome de Cowden, o gene TP53, associado à Síndrome de Li-Fraumeni, o gene STK11, associado à Síndrome de Peutz-Jeghers e o gene CDH1, associado à Síndrome do Câncer Gástrico Hereditário Difuso. Além do gene de alta penetrância PALB2, os genes de moderada penetrância, ATM e CHECK2, são outros genes cujas mutações também estão associadas ao risco de câncer de mama, presentes entre 4% e 6% dos pacientes com a doença.

A View Genetics é um grupo de consultoria e assessoramento em Oncogenética e realiza os testes de mapeamento de mutações hereditárias que possam estar relacionadas ao desenvolvimento de câncer. Nem todos os pacientes podem se beneficiar de uma análise genômica por não terem história de câncer adequada para a análise. Além disso, é necessária uma avaliação inicial para saber qual é o painel apropriado para cada indivíduo segundo seu perfil familiar e histórico de câncer. Isso evita gastos desnecessários e aumenta a assertividade do protocolo de aconselhamento genético, que possibilita que a pessoa aja preventivamente em relação a um eventual futuro diagnóstico da doença.

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